segunda-feira, 16 de maio de 2016

Rosa dos Ventos: vento sul

     A quem queira me acompanhar, estou trabalhando num projeto de viagem de bicicleta, com ponto de partida em Florianópolis (onde vivo) e ponto de chegada em Maceió (AL), mais precisamente na casa de minha amiga irmã Regina Célia Martins. Antes da cidade final, irei também parar em Salvador (BA) para ver minha filha amada Taynan Teixeira, e em Aracaju (SE) para  encontrar minha amiga querida Sandra Kiener.

      Já faz um ano que estou me organizando e treinando diariamente para essa  grande viagem. A previsão de saída é para a segunda quinzena de maio de 2016. Vou receber com muito carinho palavras dos amigos que queiram me acompanhar nessa aventura. Por isso estou iniciando o Blog e também tenho a página Vida Pedaleira: "sem eira, nem beira" no facebook para quem quiser curtir. 

     Nessa temporada de preparação, fiz algumas viagens menores experimentais para entender o meu comportamento quando estiver pedalando nas estradas, e todo processo da viagem, a logística de alimentação, tempos de pedalada, conhecer meu corpo etc. 


Criciúma x Serra Catarinense

A primeira viagem  experimental durou 7 dias.  Saí de Criciúma, dia 23 de agosto de 2015, às 9 h da manhã.  Um domingo nublado e com previsão de chuvas localizadas. A estrada nos finais de semana sempre é melhor pelo pouco movimento de caminhões e carros. Logo, cheguei a Urussanga. Cidade de origem italiana, pequena e muito calma.

                  

     Aos poucos a ansiedade vai embora e toma conta o olhar curioso pra cada detalhe da estrada... que anos atrás quando eu passava de carro não conseguia observar.  O tempo vai passando. E a fome vai pegando, mas era um domingo. Em cidades pequenas as famílias costumam se reunir para o almoço domingueiro. Parei em frente a uma concessionária em Urussanga.

     Perto de uma hora da tarde, me alimentei, tomei muita água. E depois de uma boa relaxada, estrada outra vez.  Nesse caminho se encontram várias barracas onde os agricultores vendem sua própria produção, inclusive sucos de uvas naturalmente produzidos na região. Hummmmm, delícia.  E, mais cedo do que eu imaginava cheguei a Lauro Müller onde fiquei numa pequena pousada, aliás a única da cidade que fica aos pés da Serra do Rio do Rastro.

     Já na primeira noite e no meu segundo dia de viagem vem as análises sobre o que fazer, o que não fazer, como fazer. Fundamental pra quem quer aventuras no cicloturismo.

     Segundo dia, era hora de seguir rumo a Serra do Rio do Rastro. Umas das estradas mais lindas que eu já vi. 


     Saí cedo, tomei um café na padoca e comprei bananas orgânicas nessa mesma padaria.   De Lauro Müller a Bom Jardim da Serra são apenas 35 km...mas que, com certeza, de uma beleza que precisa ser absorvida km a km. É uma estrada pra curtir o belo, sentir o silêncio, refletir junto a natureza.





     E assim, devagarinho e subindo. Devagarinho e subindo. São 12 km de subida muito forte, o que fez a estrada ser conhecida como Serra dos 12 ou agora como Serra do Rio do Rastro. Com a diferença que subindo de bike se vê tudo diferente...em cada curva novos detalhes...flores, bicas d'água, cachoeiras, borboletas, passarinhos. Carros que sobem e descem. As pessoas que dão tchau e palavras de força, ou simplesmente, um aceno. E a medida que sobe, as grandes alturas realçadas nas fendas da Serra,chegam a assustar pela grandeza.


     E assim, ali por três horas da tarde cheguei ao cume da Serra do Rio do Rastro, a mais de 1421 metros de altitude.  

                       


     Era um sentimento ,que admito, difícil de interpretar porque a vontade que eu tinha ao chegar lá era de rir muito, olhar para o céu, olhar pra terra...rs rs rs vontade de sair bailando rs rs

     Essa felicidade, logo, deu lugar a um frio imenso. Pois só depois eu senti o quanto estava molhada de suor e a temperatura lá em cima estava por volta de 13 graus. Procurei logo um banheiro pra me trocar e aumentar a quantidade de casacos.Depois, conversando com um policial, ele me afirmou que pra chegar a Bom Jardim da Serra teria mais 13 km. O que se tornou fácil depois de tanta subida. Então, procurei pedalar rápido porque com tanto frio não queria congelar no meio da estrada. Já que se o sol baixasse seria congelante.  Em Bom Jardim da Serra, uma das cidades mais frias do Brasil, encontrei a Pousada Santa Vitória, aconchegante e quentinha. E de entrada, ganhei uma xícara de café com leite e biscoitos que desceram muito bem....lembro até hoje. Nossaaaaaaa...

     E a viagem continua...no outro dia, terça feira, do dia 25 de agosto. Entre Bom Jardim da Serra e Urubici são 83 km. Era uma manhã muito fria, muito fria...com temperatura de 5 graus ao amanhecer. A Dona da Pousada me aconselhou esperar pelo menos até 9 h da manhã pra sair...pois com a geada o asfalto poderia estar escorregadio. Conselho dado e aceito. Na saída, encontrei mais uma daquelas barracas cheias de frutas, dessa vez com muitas maças. Claro, estou na terra das maças. Comprei o suficiente para o dia.

     A viagem foi silenciosa e muito calma. A estrada longa e com muitas subidas e descidas enormes.  Aquele tipo de subida que você que não vai mais chegar.E quando vem a descida, são km descendo a velocidades bem interessantes pra quem gosta de correr rs rs rs. 


     Mas, com frio intenso o corpo não responde da mesma forma em temperaturas altas...o rendimento cai e a qualquer subida, na medida que passam as horas, tudo fica mais cansativo. Não se desenvolve da mesma forma e ainda, veio a chuva. Chuva fina, gelada.  

     Faltando apenas 10 km pra chegar em Urubici...parei num ponto de ônibus. Fiquei olhando esse arco-íris e pensando o que fazer pra enfrentar a chuva que chegava com força.  Raramente passava um carro. E comecei a pedir carona na esperança de alguém parar...sim, parou um caminhoneiro que iria pra Urubici e, coincidentemente, para a mesma comunidade.  Fomos conversando e muitas perguntas curiosas do motorista sobre a minha viagem. Tranquilo, chegamos a estrada que me levaria a Vacarianos, uma comunidade distante 13 km de Urubici.  Sem mais carona e a estrada de chão batido enfrentei a chuva até a casa de um amigo, Mauro.  Com a fome e o frio, nessa hora queria mais é chegar logo. Mesmo porque a carga da minha lanterna acabou e fiquei sem nenhuma luz até a casa de Mauro. O que me salvou foi aquelas lanterninhas a dínamo que temos bater a manivela pra carregar rs rs rs mas foi assim que não fiquei na completa escuridão da noite que já tinha chegado...ao me aproximar do sítio, ainda tinha mais uns 400 m a dentro pra chegar a casa dele.  Achei melhor chamá-lo gritando:  Mauuuuuuroooooooo....naquele silêncio, dava pra ouvir e muito bem...fiz sinal com a lanterninha pra dizer que estava chegando.

     Com certeza, vale muito a pena, passar por qualquer coisa e chegar a cabana que Mauro mora...num vale maravilhoso nas paisagens maravilhosas de Urubici.  Como no dia seguinte, choveu o dia inteiro foi aí que fiquei descansando e curtindo o frio da serra catarinense.  Fogão a lenha, cafezinho quente, paisagem de dar gosto, bate papo na companhia do Mauro, um amigo irmão maravilhoso.

     Sexta-feira, cedinho...chuva foi embora e o sol voltou a brilhar. Tava na hora de partir.  Perto de 9h peguei a estrada novamente rumo ao centro de Urubici. Dessa vez eu teria 35 km até Bom Retiro sendo que teria a serra com uma subida muito forte e depois uma grande descida até a BR 282. E dentro daquela mesma filosofia de devagarinho e sempre...foi tranquilo. 

 

     Passando por paisagens lindíssimas o frio vai sendo esquecido e deixado pra trás...o que importava era só estava por vir.  A cada curva um olhar maravilhado com tanta beleza.  A cada parada um gole de água, frutas secas, um bom sanduíche pra poder chegar a casa da amiga maravilhosa Luci, em Bom Retiro. Sim, porque depois de chegar a casa dela nada melhor que um banho reconfortante e um bom prato de canjiquinha... hummmmm.....de comer ajoelhada.

   

     Como é bom chegar onde se é recebido com tanto carinho...dá vontade de ficar e não mais partir.  Poucas foram as horas mas com muita energia....energia suficiente pra mais uma vida inteira.

 

     E com a ajuda do nosso Rei Sol, pela BR 282, segui em direção a Florianópolis. Seriam 130 km mas com trechos de subidas e descidas fortes...portanto o que desse pra eu ir em frente estava bom. Quanto mais próximo eu chegasse menos seria o pedal para o último dia. E consegui  nesse dia chegar a Águas Mornas, depois de 94 km pedalados. Parei mais uma vez em casa de amigos...dessa vez da casa da Tati, uma menina especial muito mais do que especial, sobrinha da Luci. O encanto da família e dos amigos. 

     Domingo de sol, despedidas...Tati não queria que eu fosse. Era preciso seguir...minhas filhas já estavam esperando meu retorno. Agora já muito perto de Florianópolis e com as estradas planas do litoral parecia muito fácil chegar.

    Quando se vê a ponte Hercílio Luz dá aquela sensação de chegar em casa. Claro, agora bastava atravessar a ponte e mais 32 km.

     Passada a ponte e aquela alegria enorme, satisfação de ter conseguido viajar por dias. Muito bommmmmm.


     Sim...essa sensação da volta é, talvez mais impressionante do que o próprio desafio de pedalar muitos quilômetros. Com aquele gostinho de quero mais estava voltando...e no pensamento, só a vontade de repetir. Muitos planos, muitos sonhos... e foi assim com um sorriso no rosto, um sorriso de orelha a orelha encontrei Tay e Wei. Claro, agora nada melhor do que um almoço e uma cervejinha bem gelada... afinal eu voltei ou cheguei, retornei!!!!!  estava em casa novamente depois de uma semana pedalando!

Eu, minha filha Taynan e meu genro Weider curtindo a chegada

4 comentários:

  1. Que legal Marcia! Vou torcer por ti para consigas chegar ao Nordesteque

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  2. Para que consigas chegar bem ao Nordeste!

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  3. Para que consigas chegar bem ao Nordeste!

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  4. Que legal Marcia! Vou torcer por ti para consigas chegar ao Nordesteque

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